Durante a altura de confinamento tive tempo também para pensar em muita coisa e, num email do Grupo Desportivo Transplantados de Portugal, vejo a apresentação de um programa de Grupos Psicoeducativos online, de apoio aos doentes em diálise, e fiquei logo com curiosidade, pois estou sempre à procura de respostas relativas à Insuficiência Renal.
O programa incidia essencialmente em 6 sessões onlise de 2h por semana, com grupos de doentes como eu, moderadas por 2 psicólogas da Universidade de Aveiro.
Fiquei com alguma curiosodade em saber mais sobre a doença e em trocar ideias com pessoas que estão a passar o mesmo que eu. Apesar do programa ser mais virado para a hemodiálise, inscrevi-me nas sessões de casais, e o T nem teve hipótese de dizer nada. É obvio que ele aderiu logo, pois apoia-me sempre em tudo.
Eramos 3 casais a participar e 2 psicólogas em que as sessões, para além de se terem tornado bastante elucidativas, foram encontros semanais com um grupo de pessoas alegres e com vontade de ouvir, ser ouvido, partilhar, ser aconselhado....
Foram abordados diversos temas relativos à doença como o transplante, os tratamentos de substituição da função renal, hábitos de vida diária, testamento vital... Para mais informações poderão visitar o site https://togetherwestand.pt/, que está bem esplícito.
A empatia entre todos, as dúvidas resolvidas, o apoio das psicólogas e a partilha de 3 experiências tão distintas, fizeram-me sentir e pensar que eu sou uma sortuda e que o que eu tenho passado não é nada perante outras experiências de vida.
No entanto, também sei que que sou mais nova que a média de idades dos doentes em diálise e que a minha capacidade de resposta e motivação são diferentes. Aliás, todos somos diferentes e aderimos às experiências de vida de forma distinta, pelo que nada está errado. Cada um sente de forma diferente, de acordo também com a sua hsitória, e nada está errado.
É bom saber que há profissionais que não se esquecem de nós, pois por vezes sinto que fala-se de muitas doenças, o que também está certo, mas esquecem-se um pouco da nossa, que é crónica, é para a vida.
O único aspeto menos positivo que salientei também com todos os participantes, foi o facto de as sessões terem terminado, algumas vezes, após as 22 horas, o que para mim, ainda em diálise na altura, tornava-se um pouco difícil, pois a minha capacidade de concentração ficava comprometida.
No geral, a experiência foi bastante positiva e aconselho fortemente a quem tenha possibilidade de frequentar sessões deste género, e não só na Insuficiência Renal, como em todas as doenças físicas e mentais. Há quem necessite de muita atenção e esclarecimento, e às pessoas que o fazem com amor e de graça, só tenho uma palavra: GRATIDÃO.
A 27 de setembro, 1 ano após me licenciar, iniciei a minha atividade profissional nesta escola. Tinha 24 anos e não sabia nada da vida. Era aquela idade em achamos que sabemos tudo e no fim não sabemos nada. Não sabemos o que a vida nos pode reservar, não sabemos que tudo o que nos acontece de menos bom faz parte e é sempre uma lição, pensamos que tudo é fácil e ao mesmo tempo que tudo é um drama.
Esta escola, que nada parece uma escola, mas sim um antigo palacete, deixou de ser instituição do Ministério da Educação em 2006 e neste momento pertence à Trienal de Arquitetura de Lisboa.
Nunca mais lá tinha ido e há muito que desejava visitar este espaço e este largo tão peculiar da minha Lisboa. Fica no Campo de Santa Clara, mais propriamente no espaço onde se realiza a Feira da Ladra.
Sinto que foi minha primeira escola por algum motivo, que ainda não descobri qual, pois a estrutura é completamente diferente do tradicional e sinto uma ligação forte àquele espaço.
Não me lembro de em criança desejar ser professora, mas sim de brincar às professoras no meu quarto onde ensinava para os meus alunos imaginários e escrevia mesmo na porta do roupeiro com giz. Era a minha brincadeira preferida e talvez, inconscientemente tivesse um desejo escondido.
O que na altura de escolher queria mesmo era Comunicação Social para trabalhar talvez em rádio ou imprensa escrita e ainda me cheguei a inscrever no curso na Universidade Independente, mas a vida deu-me a volta sem me aperceber mesmo disso. Talvez até tivesse resultado muito bem e até talvez estivesse bem melhor financeiramente agora. Mas não estou nada arrependida pois acredito que estou sempre no sítio certo e onde era suposto.
Sei também que a profissão de professora era uma grande vontade da minha mãe, embora nunca me tivesse influenciado. Mas lá está, tanto desejou que aqui estou eu.
O destino trouxe-me a esta profissão que e adoro e não me vejo a fazer outra coisa, pelo menos neste momento.
A paixão foi crescendo, embora seja uma profissão muito exigente, cheia de burocracia, em que temos de ser pais, mães, avós, psicólogos, médicos, mediadores, técnicos administrativos, entre outros, e no meio disto tudo ensinar conteúdos de uma mão cheia de disciplinas... A valorização é pouca e estamos sempre sujeitos a escrutínio público e faltas de respeito por parte de uma sociedade em que todos são "professores", menos os próprios docentes... todos são impunes e todos têm direito a errar, menos os docentes. Sinto que temos sempre de ser infalíveis e agir de acordo com a vontade de terceiros e não em consonância com a nossa experiência, os nossos valores e principalmente o bem estar físico e psicológico das crianças.
Contudo, a paixão mantém-se e, mesmo que por vezes esvaneça um pouco, é onde me vejo a trabalhar até o destino quiser.
Não trabalho há 8 meses e meio, e a única coisa de que tenho saudades é de me ver na sala de aula com os alunos. Não anseio todo o trabalho que envolve a profissão, pois para mim, é "papelada" a mais. Acho mesmo que deviamos centrar o trabalho no processo de ensino e apredizagem dos alunos, na sala de aula, embora as discussões e articulações com todos os intervenientes sejam necessárias e essenciais.
Muitos não fazem uma pequena ideia do que é o trabalho fora da sala de aula, que ultrapassa em muito as horas não letivas semanais que temos definidas no nosso horário, isto no 1.º ciclo que é onde eu tenho a minha experiência. Quanto aos outros ciclos não posso falar porque nunca experienciei.
Um dia vi uma frase numa rede social que diz tudo e era assim: " Confundir o trabalho de um professor com as horas da aula é o mesmo que dizer que um atleta só trabalha durante a corrida".
Penso estar quase a regressar, embora o entusiasmo não seja muito, pois habituei-me à minha rotina diária sem aulas, apesar de me levantar sempre cedo para fazer a medicação, iniciar o meu dia e tentar andar sempre ocupada ao longo do dia.
Quando regressar ao trabalho, é sinal que tudo está no caminho certo, a retomar a chamada "vida normal" e que a recuperação pós transplante está a ser um sucesso.
Quando passamos por situações difíceis, em que a incerteza passa a fazer parte da nossa vida, em que a nossa energia, vida diária e sentimentos ficam bastante afetados, procuramos explicações em todo o lado. Pelo menos eu sou assim, pois a explicação científica apenas, não me traz as respostas todas.
Tenho uma educação bastante católica por parte dos meus pais (mais a minha mãe) que me incentivaram sempre a procurar a Fé na igreja… frequentei a catequese durante 10 anos e fiz tudo: 1.ª Comunhão, Profissão de Fé, Crisma… Ao longo da minha adolescência só ia à catequese por bastante “incentivo” da minha mãe, e após ter feito o Crisma deixei de frequentar o que quer que fosse ligado à religião. Desliguei-me completamente da igreja.
Só voltei a pensar novamente em Fé quando a doença piorou e tive de iniciar a diálise… mas tem sido uma Fé que procuro mais dentro de mim do que em algo exterior, daí também procurar algumas respostas e trabalhar a espiritualidade e desenvolvimento pessoal.
Contudo, parece que a Fé também me procurou… Nunca tinha ido a Fátima e nem tinha propósito nesse sentido, até que começo a ter alguma vontade em visitar o local, também mais por curiosidade, isto após iniciar a diálise e ter passado por alguma infelicidade no início. Ainda não se tinha proporcionado, quando não é o meu espanto, que Fátima vem até mim. Há quem não acredite em coincidências, mas eu creio que sim.
Muitas vezes a imagem de Nossa Senhora de Fátima percorre o país em procissão, vindo várias vezes aqui ao concelho e eu sabia que ela andava por cá. Num dia normal de escola, na hora do almoço costumamos sempre ir ao café e ao regresso para a escola começamos a ouvir uma música a aproximar-se… era essa mesma procissão qua passava ao meu lado, ao lado da minha escola e exatamente na minha hora de almoço, quando estava a regressar do café. No espaço e no tempo certos.
Senti logo que não podia ser uma coincidência e senti que era para mim… senti que era um incentivo à minha busca pela calma interior. Emocionei-me e percebi a mensagem de que estava na hora de lhe fazer uma visita e de acreditar, principalmente em mim. E logo eu, que estava tão desligada disto tudo!!!
Mais tarde, mais ou menos um ano antes do Transplante fui e senti-me bem e em Paz… A Paz que sei que está dentro de mim e que depende única e exclusivamente da minha pessoa. Isto pode parecer uma contradição, mas ter Fé é relativo. Todos nós temos Fé numa só crença ou em várias. No meu caso tenho Fé em muita coisa, principalmente no que me faz acreditar que eu consigo superar tudo, seja na religião, numa imagem ou no meu Eu. O importante é sentirmos que vamos ultrapassar os dias mais “frios”.
Algum tempo mais tarde, após ir a Fátima pela primeira vez, a mesma procissão passa aqui na minha rua, algo que nunca tinha visto por aqui e já cá moro há 8 anos. Outra coincidência!!??
Tinha prometido a mim mesma que voltava a Fátima após fazer o Transplante e assim foi. Fiz o Transplante no dia 30 de setembro e o primeiro sítio onde fui, foi a este que emana uma energia diferente. Senti-me com dever cumprido, principalmente comigo própria, porque quando defino objetivos é para mim mesma e para os que eu amo.
Cada pessoa é livre de procurar a Fé onde mais se sente em Paz e todos temos a obrigação de respeitar, seja religião, Fé interior, estilo de vida ou qualquer outra, ou até mesmo nos mais céticos. Nada nem ninguém deve impor ao outro uma crença ou um padrão, porque isso não é Fé. A Fé está dentro de nós e no que acreditamos ver e sentir.
A única palavra que sinto e que partilho neste dia é GRATIDÃO!!!
Já o disse várias vezes e volto a dizer que, sem as palavras, a entrega, o profissionalismo e o apoio destas pessoas tão importantes que têm passado na minha vida, de certeza que não seria tão harmonioso os longos e muitos dias que tenho passado no hospital.
É uma das profissões mais importantes que, só quem tem a capacidade de ajudar e cuidar do outro com o coração, é que pode abraçar uma tarefa destas, e acho que deviam ser mais valorizados. Claro que há execções, mas estas não fazem parte da minha experiência.
A minha gratidão vai para a equipa de Diálise Peritoneal, de Pós Transplante Renal, de internamento na unidade de Nefrologia/ Transplante Renal e até da Hospitalização Domiciliária do Hospital Garcia de Orta que, apesar de nem sempre terem as melhores condições para trabalhar, nunca me fizeram sentir como se fosse um número e sempre agiram de forma a que a minha experiência fosse o mais positiva possível, mesmo em situações bastante desagradáveis e inconstantes.
Tenho muita sorte pelas pessoas que têm cuidado de mim e que têm passado na minha vida...
7 meses e 4 dias de Transplante e cada vez me sinto melhor e com mais energia.
Após este último episódio menos feliz, em que estive "lá em baixo", finalmente sinto que estou a voltar a ser Eu. Nunca deixei de acreditar que iria recuperar e ficar bem. Não só estou bem, como estou excelente.
Acreditando sempre que a nossa mente comanda o nosso corpo, tenho aproveitado para trabalhar o meu interior, de forma a crer que isto é o início da minha cura, mesmo que todos continuem a dizer que a minha doença, por ser crónica, não tem cura. Acredito que tudo é possível, e que este transplante seja a minha recuperação para sempre neste meu renascimento.
Não sinto que tenho uma vida nova, pois continuo a ser Eu, mas sinto que tenho uma vida melhor, aprendendo a cuidar de mim com Amor, renovando as minhas atitudes, tornando-me num ser melhor.
Tenho aproveitado para ler vários livros e textos que apresentam histórias reais fantásticas, que mostram que somos nós que comandamos a vida, que todas as nossoas ações e pensamentos têm consequências. Se tivermos boas ações e pensamentos de gratidão, de visualização sobre o nosso propósito de vida e aquilo que realmente nos faz bem e o que pretendemos, sem dúvida que as consequências serão sempre positivas, mesmo demorem a chegar. Claro que esta minha teoria não apareceu agora, mas já vem de há anos, aproveitando mais nestas pausas para continuar a estudar e a ativar todos estes conceitos em que acredito mesmo muito.
Creio também, que mesmo trabalhando desta forma, haverão sempre fases menos positivas em que o segredo é saber aceitar, saber como agir e tirar partido e aprendizagem.
Tudo o que me aconteceu de menos bom e todas as pessoas que passaram na minha vida, trazendo-me situações desagradáveis, há sempre que tentar saber o porquê e aceitar, porque tudo isso é o que tem de acontecer, permitindo-nos assim crescer e evoluir como seres.
Só há uma situação que talvez nunca conseguisse aceitar que acontecesse, mas disso quero apenas não me lembrar.
Sei que a minha doença, a qual já estou curada, trouxe-me a maior lição: "Nada é garantido na Vida!". O que hoje é certo, amanhã poderá não ser, e que devemos trabalhar a nossa essência para aceitar e aprender. E é assim até ao fim da linha.
Relativamente a leitura, para além do Guia Prático Anual "Almanaque Espiritual" que a minha filha me ofereceu, ainda li "Como criar um novo Eu" do Dr. Joe Dispenza e estou a acabar "Dentro da loja mágica" de Dr. James R. Doty. Quem conhece estes livros, sabe do que falo. Futuramente pretendo ler de novo algumas obras que tenho já há muitos anos, dentro do mesmo tema.
Para além da leitura, tenho assistido a alguns Podcasts ou lives sobre desenvolvimento pessoal, auto conhecimento, poder da mente... tais como Gaya Talks, Kológica...
Neste momento ainda estou em casa, diminuiram a medicação, deixei de fazer as medições diárias de peso, temperatura, tensão arterial e urina, fazendo-o apenas algumas vezes por mês. Tenho sentido um enorme apetite, principalmente comida que não me faria bem, controlando-me bastante para não cometer erros excessivos. Sendo assim tenho bastante cuidado com a alimentação, baseada em vegetais, comendo proteina animal apenas 2 ou 3 vezes por semana. O que não consigo nem quero controlar é o consumo de pão branco, chegando a comer 2 a 3 pães por dia.
Tenho feito caminhadas e algum exercício físico em casa, não exagerando nos pesos e no esforço abdominal.
Acho mesmo que há muito não me sentia tão bem, interior e exteriormente.
Grata à Vida!
Primeiro mergulho numa piscina, desde setembro de 2014!
6 meses de transplante hoje... o meu Rim está de parabéns. Tem-se aguentado firme e forte, embora por vezes, o inesperado acontece. Agora estou bem, a recuperar ainda, um pouco cansada, com peso a menos (novamente), mas com muita vontade de ativar o meu corpo.
Há mais ou menos umas 3 semanas comecei a ficar muito mal disposta e com fortes sintomas de uma gastroentrite. Não foi nada fácil e não me lembro de estar assim há muito, com noites sem dormir por causa das dores, com um cansaço extremo e grande fraqueza. Entretanto fiz uma consulta e as análises nem estavam assim tão más, inclusive a creatinina, facto este que me descansou um pouco. Fiz soro para a hidratação e iniciei medicação para a gastroentrite, com indicação para uma dieta apropriada para estes casos. Saí da consulta mais descansada, principalmente pelo meu Rim.
Contudo, não melhorei e continuei assim, pelo menos durante uma semana, perdendo à volta 4/5 kg, os valiosos quilos que tinha ganho desde o transplante. Quem me conhece sabe como é importante para mim o peso, pois sempre tive um peso muito baixo e já tinha chegado aos 44kg, sendo o meu objetivo os 45kg. Com a "descarga" literal desta semana, cheguei a pesar 39kg, o que para mim nota-se logo, ficando bastante desconfortável, embora soubesse que, após passar este episódio menos feliz, voltaria aos meus 44kg e chegaria até ao objetivo final...os 45kg. O que me estava a deixar descansada é que conseguia fazer a medicação e mantê-la dentro do organismo, o mais importante de tudo para não haver uma rejeição.
Na sexta feira seguinte, e após uma semana assim, tive novamente consulta, a que fui com muito esforço pois senti-me bastante fraca. Desta vez as notícias não eram as melhores... a creatinina tinha subido para 1,9, o que seria de esperar pela desidratação em que me encontrava, pois a dificuldade em ingerir líquidos era muita, e a de comer muito mais. Já não me lembro de sentir assim tão frágil há muito, nem sei se algum dia me senti assim....
Desta vez tinha mesmo de ser, teria de ficar internada para fazer soro, medicação intravenosa e em vigilância e descanso absoluto. Apesar da primeira proposta ter sido ficar no hospital, e como me desagrada imenso estar fora de casa, a melhor solução foi a Hospitalização Domiciliária, ideia esta que me agradou bastante sendo possível conciliar tudo. Assim foi, nesse mesmo dia fui direta ao serviço, fiz teste covid, análises e deram entrada do meu internamento em casa com todas as informações que necessitava. Iniciei imediatamente antibiótico, até porque também estava com uma infeção urinária, e fui para casa com um aparelho que de 8 em 8 horas fazia entrar a medicação intravenosa através de um acesso permanente que tinha no braço. A partir deste momento estava entregue à equipa do internamento domiciliário, onde era mesmo obrigada a descansar, pois tinha de estar sempre em casa e em repouso, tinha um número de telefone que servia de SOS 24h por dia. Todos os dias, de manhã vieram cá a casa os enfermeiros e médicos para avaliarem o meu estado e trocar o saco da medicação ou outra coisa qualquer que eu necessitasse. Fiquei fã deste serviço, porque, ao mesmo tempo que estava no meu espaço, estava a ser acompanhada por uma equipa de saúde muito eficiente e sempre prontos a ajudar-me.
É de salientar que o Hospital Garcia de Orta foi o pioneiro desta modalidade de internamento, embora neste momento já se faça em vários hospitais pelo país.
Ao longo da semana fui melhorando aos poucos, a creatinina voltou a descer, o que me descansou, tendo alta há 2 dias. Embora ainda me sinta um pouco cansada, já começo a ficar mais ativa, com muito mais apetite, já engordei 1kg e já consigo beber, pelo menos 2 L de água, o que é crucial para o meu Rim.
Por vezes, preciso destes "abanões" para me lembara que nada é linear e tudo é incerto, e o inesperado pode acontecer. Também foi benéfico para perceber que tenho de levar tudo com mais calma, muito mais calma (às vezes esqueço-me e digo sempre sim a tudo).
Nao foi nada fácil e senti uma desmoralização e tristeza bastante grande dentro de mim, pois já pensava que, estando a fazer 6 meses de tranplante, poderia começar a normalizar a minha vida cada vez mais.
Nada é seguro e somos nós que temos de cuidar de nós!!! Aprender a dizer Não, e pensar só em nós, às vezes também é importante... não somos de ferro e nem sempre aguentamos com tudo.
Por me achar às vezes muito forte e tentar fazer tudo, este tipo de coisas acontecem! Cuidar de mim, para poder cuidar dos outros, é o meu objetivo neste momento, para além dos de sempre.
Grata à vida e grata a mim por ter aguentado mais uma batalha!!
5 meses de transplante. A vida vai evoluíndo devagar e as rotinas vão normalizando. Tento fazer um pouco mais de exercício físico em casa, com movimentos em pouco esforço e escutando sempre o meu corpo.
No meio disto tudo vou apanhando uns pequenos sustos. Há 4 semanas a creatinina subiu para 1,5 e estive quase para ser internada para que verificassem o que se passava e até talvez fazer uma biópsia ao Novo Rim. Realmente sentia mais sede e com a pele muito seca, o que é sinal de alguma desidratação, pelo menos no meu caso. Continuo a dizer que os sinais do nosso corpo são essenciais para que nos possamos cuidar ou ter em atenção a alguma situação que não esteja tão bem.
Após este susto, e com medo de voltar ao zero ou que o meu corpo rejeitasse o Novo Rim, comecei a beber mais água e de 3 litros passei a 4 litros. É um exagero de água, eu sei, mas no meu caso não custou nada a beber e o meu corpo estava a pedir. Era sinal que realmente estava a precisar de hidratar.
Após dois dias de ansiedade, de incerteza e com muitos medos, voltei ao hospital, fiz novas análises e na consulta tiraram-me um peso que permanecia em mim ao longo destes 2 dias. Creatinina voltou a 1,1 e o respirar de alívio, meu e dos médicos, foi nítido.
Infelizmente estes casos são comuns, mas o meu medo de que haja uma rejeição ou que o rim deixe de funcionar é um facto, pois não quero, não penso e não posso voltar à diálise.
Este medo que paira em mim ainda é uma constante, que ao longo do tempo tem sido atenuado, mas ainda tenho de o trabalhar para que não se apodere da minha mente, nem seja uma atração para o futuro. Porque acredito que atraímos tudo o que pensamos.
Entretanto, e com a medicação ainda bastante forte, o cabelo começou a cair, notando-se mais quando o penteio após lavar. Para mim não é grave, é mais uma superação que neste momento não me preocupa porque sei que ele vai crescer de novo. Não me irá cair por completo e felizmente nota-se pouco, porque ainda tenho bastante. Sendo assim, tomei a decisão de o ir cortar acima dos ombros, também porque estava a precisar de um corte radical e simplesmente porque apeteceu-me. Há muito que não o cortava assim tão curto, normalmente gosto de ter o cabelo mais longo.
As consultas continuam, neste momento de 15 em 15 dias, e as análises estão dentro do expectável e esperado, embora, por vezes, a hemoglobina esteja um pouco mais baixa, mas controlável com medicação.
As meditações e o trabalho de desenvolvimento pessoal têm ajudado muito para que os meus pensamentos sejam mais tranquilos e positivos, tentando melhorar as minhas atitudes e emoções, deixando para trás tudo o que não me faz bem.
O tempo não para e já estou a caminho do sexto mês, ainda em casa óbvio, a recuperar e evitando contactos com possíveis infeções. Sinto-me bem, segura, pronta para o meu novo presente e futuro, e com muita fé em mim e no Novo Rim.
Estou tão grata por esta nova oportunidade de Vida!
Faz exatamente hoje 3 meses de transplante e estou tão feliz!
Cheguei a casa no dia 11 de outubro, 12 dias após internamento e 11 dias após o transplante. Estava desejosa de estar no meu ambiente e principalmente com os meus, no meu espaço, no meu lar.
A Paz e a Serenidade que a minha casa traz, dá-me uma maior motivação para a recuperação. Tomar um banho na minha banheira e dormir na minha cama após tanto tempo e sem a máquina da diálise a funcionar, trouxe-me uma maior tranquilidade e felicidade que me leva a pensar e a acreditar que vou conseguir superar tudo, que a minha recuperação e a volta às rotinas serão mais rápidas do que esperava.
Os primeiros dias em casa foram apenas de repouso, pois ainda estava muito frágil relativamente à sutura e ao sistema imunitário, tendo que ter muita cautela para não correr riscos desnecessários. Dediquei-me ao sofá a ver séries, televisão, escrever... Apesar de muito repouso, fiz sempre questão de cozinhar sempre as refeições, uma forma de me tornar mais útil e ativa.
No primeiro mês não estive com mais ninguém sem ser os de casa, mas sempre acompanhada da máscara e sem contacto físico. Ao longo do tempo fui tirando a máscara e depois vieram os abraços e os beijos de que tantas saudades tinha.
Não saia de casa sem ser para ir ao hospital para as análises e consultas, ao início duas vezes por semana e depois uma vez apenas.
Após este primeiro mês iniciei as minhas caminhadas, no início apenas aqui na rua, num pequeno percurso, pois ainda ia com alguma insegurança. Depois comecei por fazer caminhadas um pouco maiores ao longo da praia, no percurso que fosse mais confortável. Ia sempre escutando o meu corpo e fazia exatamente o que ele me dizia, sem forçar.
Comecei também por fazer pequenas compras no supermercado do bairro, tendo assim a necessidade de tornar-me cada vez mais ativa, dentro dos limites que o meu corpo transmitia e descansando sempre que necessitava.
As rotinas da medicação e das medições (diurese, tensão arterial, temperatura e peso) também estão sempre privilegiadas no meu dia a dia, cumprindo os horários com rigor, sendo assim crucial para a minha recuperação e a não rejeição do rim.
A alimentação é um factor principal para o bem estar físico e mental, tendo assim muito cuidado com as refeições e com os alimentos que consumo.
Tenho tido bastante tempo também para trabalhar a minha pessoa, para refletir sobre a minha vida e objetivos pessoais, assistindo a lives ou lendo sobre auto conhecimento e desenvolvimento pessoal, com o objetivo de que o presente e futuro me permita viver com menos ansiedade e mais tranquilidade, mesmo em situações mais difíceis. Aprender a aceitar não é um caminho fácil, pois requer muito controlo, capacidade de gestão de emoções e auto conhecimento, focando nos meus objetivos e potencialidades, mas é um início e uma grande vontade de viver uma vida mais feliz, em paz e serenidade, deixando para trás tudo o que não me faz bem. É um trabalho de uma vida, de todos os dias, pois acredito que todas as doenças físicas estão associadas às nossas emoções.
Fiz 1 mês de transplante há 3 dias e o meu Rim está de parabéns! 1 mês de transplante e tudo corre bem!
Não posso dizer que tem sido fácil, principalmente os 12 longos dias de internamento, mas tenho mantido sempre o pensamento positivo e esperança num futuro mais tranquilo, tudo se consegue e tudo se ultrapassa, mesmo o que às vezes parece não ter solução.
Muito importante, para além de seguir com rigor todas as indicações médicas e cuidados essenciais para o bem estar físico e emocional, é ter sempre o pensamento positivo, muita Fé que tudo vai correr bem e que o novo Rim vai funcionar durante muito, mas mesmo muito tempo.
Os dias pós transplante não foram muito agradáveis, apesar de sentir que estava muito bem acompanhada por toda a equipa.
Nos primeiros dias tinha algumas rotinas: análises, medicação, medição de tensão arterial e glicémia, exames, medição do nível de urina. Depois ainda tirei o cateter do pescoço e uma quantidade de coisas a que estava ligada que nem sei bem o que eram e também nem questionei. Depois foram os drenos e a algália (objetos muito desconfortáveis), que estava desejosa de me ver livre. Apesar de tudo isto, só me interessava saber se o meu Rim estava a funcionar bem e os valores das análises. A creatinina cada vez estava mais baixa, o que é um fator muito favorável. Contudo, os níveis de hemoglobina também estavam muito baixos o que era um indicador de anemia, de tal forma que tive de fazer uma transfusão de sangue pela primeira vez na minha vida, permitindo assim regularizar os valores. Tudo isto são processos normais, que fazem parte, mas cada caso é um caso. Cada corpo reage de forma diferente.
Uma das coisas mais desagradáveis para mim foi andar de algália. Outra foi tirar os drenos, embora tenha tirado os dois em dias diferentes, foi muito desconfortável. Nos primeiros dias, a alimentação foi à base de líquidos e a primeira refeição sólida soube-me pela vida. Notei que estava com mais apetite e o que me sabia melhor era mesmo o pão da manhã e o da tarde.
O Rim funcionou bem desde o início e as análises, cada dia que passava tinham valores cada vez mais otimistas, embora estivesse muito inchada e com 6 kg a mais, isto devido à quantidade de soro que estava a entrar no meu corpo para que permitisse ao meu rim funcionar o melhor possível, mas fui perdendo peso ao longo dos dias e consoante conseguia caminhar mais.
Nos últimos dias de internamento já estava um pouco farta da alimentação do hospital, com muitas saudades das minhas refeições de casa. Estes últimos dias custaram muito a passar, pois apenas estava a fazer antibiótico, sentindo muita solidão e isolada de tudo, sem paciência para falar com as pessoas, ler, escrever... Não me apetecia fazer nada... apenas restava ter paciência e esperar. Não podia receber visitas, mantinha-me apenas no meu quarto, onde a maioria do tempo via televisão ou séries na NetFlix. Estava entediada e desejosa de ir para casa para me sentir mais à vontade e estar junto dos meus, embora tivesse consciência de que se ainda estava no hospital era para um bem maior. Restava apenas ter paciência e fazer tudo com rigor para que nada corresse mal. Se a vida me deu esta oportunidade, eu teria de a agarrar com toda a força e ir vivendo um dia de cada vez.
Cada dia que passou senti-me fisicamente cada vez melhor e com muita esperança no futuro, embora por vezes ainda tenha pensamentos negativos, que depressa os faço sair da minha cabeça pois acredito que a minha mente e o emocional comandam o físico.
Mentalizei-me que este era o meu caminho e que o tinha de percorrer o melhor que conseguia, embora tenha sido um pouco um sofrimento emocional e solitário. Apesar deste sentimento de solidão, senti-me sempre muito apoiada por muita gente que me enviava palavras de carinho e muito positivas, pois nesta fase é crucial ter à volta uma energia de tranquilidade, equilíbrio e positivismo.
No dia 11 de outubro, após 12 dias de internamento, finalmente tenho alta e posso ir para casa. Era o que eu mais desejava e, ao chegar a casa, senti que era o início de alguma coisa boa e diferente.
Grata à Vida
Primeiro banho em casa após 11 dias de transplante, no dia da alta de internamento
Dia 29 de setembro de 2021, numa quarta feira qualquer, logo após o jantar a minha vida deu uma volta, que há muito ansiava.
Eram perto das 21 horas, a minha filha estava no quarto a estudar, o meu marido estava no Funchal em trabalho e eu organizava o meu dia seguinte, tal como fazia todos os dias da semana antes de me deitar.
Recebo um telefonema... O telefonema... Era a Dr.ª C. do HGO que me disse que tinha um Rim para mim. Após ouvir esta boa nova fiquei ansiosa, cheia de perguntas e quase com a dúvida pelo que estava a acontecer, mas muito feliz. Disse para me ir preparando pois ligaria novamente dali a pouco tempo.
A minha filha ouviu a conversa e veio ter comigo e, quase como que já soubesse o que se estava a passar questionou-me relativamente a esse telefonema. Muito ansiosa e sem saber muito bem o que fazer dou-lhe um abraço e ela fica super feliz dizendo para não me preocupar porque era uma coisa boa. Ligo ao meu marido, com quem tinha acabado de falar antes do telefonema acontecer. Não consigo falar com ele pois o telemóvel estava desligado ou sem rede. Parece que tinha sido de propósito, com tantos dias para acontecer, tinha de ser logo num dia em que ele não estava em casa. Mas é mesmo assim, estas coisas não têm tempo e acontecem sempre quando menos esperamos.
Ligo para o meu irmão avisando-o que possivelmente teria de me levar ao hospital. Dá-me força e diz-me "Vamos para a frente!!".
Liga novamente a DR.ª C. dizendo que se confirma o transplante no dia seguinte. Diz-me para me ir preparando e ir andando para o hospital. Ainda lhe questionei se iria de manhã cedo, mas não, era para ir nesse mesma noite, naquele mesmo momento.
Já tinha a diálise preparada, mas não pensei muito. Arranjei a mala, vesti-me, a minha filha preferiu ir para casa do pai em vez de dormir sozinha, liguei ao meu irmão e em 30 minutos estava no hospital, num quarto privado com casa de banho também só para mim.
Não pensava no que estava para trás, só no que viria a seguir e eram apenas sentimentos de felicidade.
Finalmente consigo falar com o meu marido, que nunca pensou que pudesse estar a acontecer logo no dia em que estaria a uma distância de uma viagem de avião. Não tinha importância, eu sabia que mesmo assim ele estava comigo. Pedi-lhes para avisarem os meus pais só quando eu acordasse da cirurgia e assim foi.
Passei bem a noite e no dia seguinte começa a preparação: análises e rotinas essenciais para um pré transplante. Disseram-me que só por volta das 20 horas é que iria para o bloco. Passei o dia com muita Fé, Esperança e nunca pensei no pior. Sempre tive a sensação que iria correr bem e acordaria para então começar uma nova fase.
A cirurgia atrasou-se um pouco e só desci para o bloco por volta das 21h30. Assim que entro no bloco só me lembro do anestesista falar comigo e segundos depois "apaguei".
Lembro-me apenas de ter acordado por volta das 2 horas da madrugada, ver um médico e uma enfermeira falar comigo e apenas pedi o telemóvel para avisar a família. Assim que enviei mensagem adormeci novamente acordando apenas de manhã.