Há dois dias publiquei sobre as minhas férias e hoje novamente em destaque pela equipa do SAPOBLOGS.
Grata, mais uma vez, pela oportunidade de chegar a mais pessoas, pois é esse o objetivo. Levar esperança a todos os que estejam a passar pelo mesmo que eu, ou que tenham desafios nas mãos, que pensam ser impossíveis de ultrapassar... Nós podemos tudo... A nossa mente é mais forte que o nosso corpo! Acreditar e não desistir, é o caminho!
Este foi o primeiro verão como transplantada. Apesar de ter mais liberdade e o espírito ser diferente, foram umas férias calmas e um pouco mais por casa. Isto porque o Tiago decidiu abrir uma mercearia/ cafetaria biológica aqui mesmo na rua, UniversoBio ( https://www.facebook.com/universobio2021/), em dezembro de 2021, e não tinhamos a certeza de como iriam ser as suas férias, dai não termos marcado nada de diferente.
A primeira semana de agosto fomos até Vila Real e passamos esses dias na casa de férias e de infância do meu pai numa aldeia próxima da cidade, embora a maioria dos dias andamos a passear e a conhecer aquela zona de Trás os Montes.
Como no verão passado fomos uns dias ao Gerês, fiquei fã do norte do nosso país e das praias fluviais, cascatas, aldeias, natureza. Temos tanta riqueza natural nestas zonas... Também já estava um pouco cansada de ser sempre o mesmo... praia, piscina.. praia, piscina... Algarve... Costa Vicentina... demasiada gente!!! Não quer dizer que não volte a passar férias nestes lugares, principalmente na Costa Vicentiva da qual sou fã, mas às vezes sabe bem mudar um pouco.
Trás os Montes pode ter tudo isso, embora de forma distinta, e uma riqueza de paisagens, sítios recônditos e muitos lugares para conhecer e experienciar, com menos confusão. Há que dizer que, cada vez mais, há mais gente com a mesma vontade que eu, de conhecer estes lugares mágicos, aventureiros e ao mesmo tempo relaxantes.
Fomos ao Pena Aventura Parque, Fisgas de Ermelo, Praia Fluvial de Olo, descemos o Rio Douro da Régua ao Pinhão, fizemos o comboio turístico do Tua, passadiços do Corgo e, ao mesmo tempo, aproveitamos para estar com a família que mora por aqui.
Praia Fluvial do Rio Olo
Pinhão
Cruzeiro no Rio Douro
Estação do Pinhão
Nas semanas seguintes estivemos por casa e aproveitamos também a nossa praia do Castelo, passeamos por Lisboa, fomos conhecer os passadiços da Mata dos Medos e descansamos. Apesar de não estar muito cansada, pois não tenho "em cima" um ano letivo inteiro, mas tenho a "ressaca" de um transplante.
Não me importo nada de estar em casa, pois é a melhor forma de descansar, havendo também muita atividade para se fazer aqui próximo e temos, o que é para mim, a melhor extensão de praias para aproveitar, seja verão ou inverno.
Como transplantada, sem dúvida que a melhor e maior diferença foi o facto de conseguir mergulhar, nadar, estar no rio ou piscina sem qualquer tipo de restrição, bem como a não preocupação da diálise. A Liberdade, para além da Saúde claro, é o melhor bem que temos e só damos valor quando não podemos usufruir dela.
O trabalho é já esta semana e estou preparada, pois este ano letivo, tudo será diferente e para melhor.
Apesar de já ter passado o Dia Nacional da Doação de órgãos e da Transplantação, celebrado a 20 de julho não posso deixar de me lembrar como este é importante.
Todos os dias são especiais e há sempre motivos felizes, mas este, entre outros, é de celebração pela missão de vida que muitos seres especiais têm.
Estou tão, mas tão grata pelo meu Dador que, perante aquilo que acredito ter sido a sua missão de vida, salvou a minha. Salvou a minha vida e hoje brilha na memória de seus familiares e para mim será sempre um Sol ao longo do meu caminho.
Embora nunca o venha a conhecer fisicamente, nem à sua história, fez história na minha vida. Uma das histórias mais bonitas que permanecerá sempre, aconteça o que acontecer.
Grata a esta minha Estrela e a todas as outras que tiveram o mesmo destino e missão.
Brilham fortemente dentro de todos nós que fomos presenteados pelo altruísmo de sua missão.
Este dia serve também para lembrar os que em vida, têm o mesmo propósito e o mesmo caminho: os dadores em vida e os profissionais de saúde.
Eu sou tão sortuda!
Grata a ti, à tua família e, mesmo não te conhecendo, permanecerás em mim para sempre!
O tema este ano foi "Sustentabilidade da Doação e Transplantação" tendo havido várias palestras e encontros promovidos pela Sociedade Portuguesa da Transplatação e Instituto Português do Sangue e da Transplatação, IP.
Imagem by Grupo Desportivo dos Transplantados de Portugal
Faz exatamente hoje 9 meses de transplante e sinto-me tão bem... física e mentalmente.
A minha vida, aos poucos, vai normalizando cada vez mais. Neste momento já não me privo praticamente de nada e a felicidade está bem presente neste momento.
A hora de regressar ao trabalho chegou e agora sim, posso dizer que o interregno de quase 8 anos chegaram ao fim e é o início da minha nova vida. O renascer aconteceu da forma mais bonita e esperada, tendo também consciência que eu sou forte e a recuperação deve-se em grande parte à minha grande vontade em permanecer mais positiva, mais grata e com uma visão diferente da que tinha antes da diálise.
Sou o que sou, cada vez mais assertiva sobre os meus objetivos e sobre o que me faz bem, sendo que sei bem que hei-de ter momentos bons e menos bons, tal como foi até aqui. E foi com esses momentos todos que aprendi, cresci, errei e estou onde estou, onde tenho de estar.
Ainda tenho muito para caminhar, para aprender, para rir e para chorar, mas sou sempre eu e, cada vez mais, sigo os meus instintos e os meus valores.
A 27 de setembro, 1 ano após me licenciar, iniciei a minha atividade profissional nesta escola. Tinha 24 anos e não sabia nada da vida. Era aquela idade em achamos que sabemos tudo e no fim não sabemos nada. Não sabemos o que a vida nos pode reservar, não sabemos que tudo o que nos acontece de menos bom faz parte e é sempre uma lição, pensamos que tudo é fácil e ao mesmo tempo que tudo é um drama.
Esta escola, que nada parece uma escola, mas sim um antigo palacete, deixou de ser instituição do Ministério da Educação em 2006 e neste momento pertence à Trienal de Arquitetura de Lisboa.
Nunca mais lá tinha ido e há muito que desejava visitar este espaço e este largo tão peculiar da minha Lisboa. Fica no Campo de Santa Clara, mais propriamente no espaço onde se realiza a Feira da Ladra.
Sinto que foi minha primeira escola por algum motivo, que ainda não descobri qual, pois a estrutura é completamente diferente do tradicional e sinto uma ligação forte àquele espaço.
Não me lembro de em criança desejar ser professora, mas sim de brincar às professoras no meu quarto onde ensinava para os meus alunos imaginários e escrevia mesmo na porta do roupeiro com giz. Era a minha brincadeira preferida e talvez, inconscientemente tivesse um desejo escondido.
O que na altura de escolher queria mesmo era Comunicação Social para trabalhar talvez em rádio ou imprensa escrita e ainda me cheguei a inscrever no curso na Universidade Independente, mas a vida deu-me a volta sem me aperceber mesmo disso. Talvez até tivesse resultado muito bem e até talvez estivesse bem melhor financeiramente agora. Mas não estou nada arrependida pois acredito que estou sempre no sítio certo e onde era suposto.
Sei também que a profissão de professora era uma grande vontade da minha mãe, embora nunca me tivesse influenciado. Mas lá está, tanto desejou que aqui estou eu.
O destino trouxe-me a esta profissão que e adoro e não me vejo a fazer outra coisa, pelo menos neste momento.
A paixão foi crescendo, embora seja uma profissão muito exigente, cheia de burocracia, em que temos de ser pais, mães, avós, psicólogos, médicos, mediadores, técnicos administrativos, entre outros, e no meio disto tudo ensinar conteúdos de uma mão cheia de disciplinas... A valorização é pouca e estamos sempre sujeitos a escrutínio público e faltas de respeito por parte de uma sociedade em que todos são "professores", menos os próprios docentes... todos são impunes e todos têm direito a errar, menos os docentes. Sinto que temos sempre de ser infalíveis e agir de acordo com a vontade de terceiros e não em consonância com a nossa experiência, os nossos valores e principalmente o bem estar físico e psicológico das crianças.
Contudo, a paixão mantém-se e, mesmo que por vezes esvaneça um pouco, é onde me vejo a trabalhar até o destino quiser.
Não trabalho há 8 meses e meio, e a única coisa de que tenho saudades é de me ver na sala de aula com os alunos. Não anseio todo o trabalho que envolve a profissão, pois para mim, é "papelada" a mais. Acho mesmo que deviamos centrar o trabalho no processo de ensino e apredizagem dos alunos, na sala de aula, embora as discussões e articulações com todos os intervenientes sejam necessárias e essenciais.
Muitos não fazem uma pequena ideia do que é o trabalho fora da sala de aula, que ultrapassa em muito as horas não letivas semanais que temos definidas no nosso horário, isto no 1.º ciclo que é onde eu tenho a minha experiência. Quanto aos outros ciclos não posso falar porque nunca experienciei.
Um dia vi uma frase numa rede social que diz tudo e era assim: " Confundir o trabalho de um professor com as horas da aula é o mesmo que dizer que um atleta só trabalha durante a corrida".
Penso estar quase a regressar, embora o entusiasmo não seja muito, pois habituei-me à minha rotina diária sem aulas, apesar de me levantar sempre cedo para fazer a medicação, iniciar o meu dia e tentar andar sempre ocupada ao longo do dia.
Quando regressar ao trabalho, é sinal que tudo está no caminho certo, a retomar a chamada "vida normal" e que a recuperação pós transplante está a ser um sucesso.
Quando passamos por situações difíceis, em que a incerteza passa a fazer parte da nossa vida, em que a nossa energia, vida diária e sentimentos ficam bastante afetados, procuramos explicações em todo o lado. Pelo menos eu sou assim, pois a explicação científica apenas, não me traz as respostas todas.
Tenho uma educação bastante católica por parte dos meus pais (mais a minha mãe) que me incentivaram sempre a procurar a Fé na igreja… frequentei a catequese durante 10 anos e fiz tudo: 1.ª Comunhão, Profissão de Fé, Crisma… Ao longo da minha adolescência só ia à catequese por bastante “incentivo” da minha mãe, e após ter feito o Crisma deixei de frequentar o que quer que fosse ligado à religião. Desliguei-me completamente da igreja.
Só voltei a pensar novamente em Fé quando a doença piorou e tive de iniciar a diálise… mas tem sido uma Fé que procuro mais dentro de mim do que em algo exterior, daí também procurar algumas respostas e trabalhar a espiritualidade e desenvolvimento pessoal.
Contudo, parece que a Fé também me procurou… Nunca tinha ido a Fátima e nem tinha propósito nesse sentido, até que começo a ter alguma vontade em visitar o local, também mais por curiosidade, isto após iniciar a diálise e ter passado por alguma infelicidade no início. Ainda não se tinha proporcionado, quando não é o meu espanto, que Fátima vem até mim. Há quem não acredite em coincidências, mas eu creio que sim.
Muitas vezes a imagem de Nossa Senhora de Fátima percorre o país em procissão, vindo várias vezes aqui ao concelho e eu sabia que ela andava por cá. Num dia normal de escola, na hora do almoço costumamos sempre ir ao café e ao regresso para a escola começamos a ouvir uma música a aproximar-se… era essa mesma procissão qua passava ao meu lado, ao lado da minha escola e exatamente na minha hora de almoço, quando estava a regressar do café. No espaço e no tempo certos.
Senti logo que não podia ser uma coincidência e senti que era para mim… senti que era um incentivo à minha busca pela calma interior. Emocionei-me e percebi a mensagem de que estava na hora de lhe fazer uma visita e de acreditar, principalmente em mim. E logo eu, que estava tão desligada disto tudo!!!
Mais tarde, mais ou menos um ano antes do Transplante fui e senti-me bem e em Paz… A Paz que sei que está dentro de mim e que depende única e exclusivamente da minha pessoa. Isto pode parecer uma contradição, mas ter Fé é relativo. Todos nós temos Fé numa só crença ou em várias. No meu caso tenho Fé em muita coisa, principalmente no que me faz acreditar que eu consigo superar tudo, seja na religião, numa imagem ou no meu Eu. O importante é sentirmos que vamos ultrapassar os dias mais “frios”.
Algum tempo mais tarde, após ir a Fátima pela primeira vez, a mesma procissão passa aqui na minha rua, algo que nunca tinha visto por aqui e já cá moro há 8 anos. Outra coincidência!!??
Tinha prometido a mim mesma que voltava a Fátima após fazer o Transplante e assim foi. Fiz o Transplante no dia 30 de setembro e o primeiro sítio onde fui, foi a este que emana uma energia diferente. Senti-me com dever cumprido, principalmente comigo própria, porque quando defino objetivos é para mim mesma e para os que eu amo.
Cada pessoa é livre de procurar a Fé onde mais se sente em Paz e todos temos a obrigação de respeitar, seja religião, Fé interior, estilo de vida ou qualquer outra, ou até mesmo nos mais céticos. Nada nem ninguém deve impor ao outro uma crença ou um padrão, porque isso não é Fé. A Fé está dentro de nós e no que acreditamos ver e sentir.
6 meses de transplante hoje... o meu Rim está de parabéns. Tem-se aguentado firme e forte, embora por vezes, o inesperado acontece. Agora estou bem, a recuperar ainda, um pouco cansada, com peso a menos (novamente), mas com muita vontade de ativar o meu corpo.
Há mais ou menos umas 3 semanas comecei a ficar muito mal disposta e com fortes sintomas de uma gastroentrite. Não foi nada fácil e não me lembro de estar assim há muito, com noites sem dormir por causa das dores, com um cansaço extremo e grande fraqueza. Entretanto fiz uma consulta e as análises nem estavam assim tão más, inclusive a creatinina, facto este que me descansou um pouco. Fiz soro para a hidratação e iniciei medicação para a gastroentrite, com indicação para uma dieta apropriada para estes casos. Saí da consulta mais descansada, principalmente pelo meu Rim.
Contudo, não melhorei e continuei assim, pelo menos durante uma semana, perdendo à volta 4/5 kg, os valiosos quilos que tinha ganho desde o transplante. Quem me conhece sabe como é importante para mim o peso, pois sempre tive um peso muito baixo e já tinha chegado aos 44kg, sendo o meu objetivo os 45kg. Com a "descarga" literal desta semana, cheguei a pesar 39kg, o que para mim nota-se logo, ficando bastante desconfortável, embora soubesse que, após passar este episódio menos feliz, voltaria aos meus 44kg e chegaria até ao objetivo final...os 45kg. O que me estava a deixar descansada é que conseguia fazer a medicação e mantê-la dentro do organismo, o mais importante de tudo para não haver uma rejeição.
Na sexta feira seguinte, e após uma semana assim, tive novamente consulta, a que fui com muito esforço pois senti-me bastante fraca. Desta vez as notícias não eram as melhores... a creatinina tinha subido para 1,9, o que seria de esperar pela desidratação em que me encontrava, pois a dificuldade em ingerir líquidos era muita, e a de comer muito mais. Já não me lembro de sentir assim tão frágil há muito, nem sei se algum dia me senti assim....
Desta vez tinha mesmo de ser, teria de ficar internada para fazer soro, medicação intravenosa e em vigilância e descanso absoluto. Apesar da primeira proposta ter sido ficar no hospital, e como me desagrada imenso estar fora de casa, a melhor solução foi a Hospitalização Domiciliária, ideia esta que me agradou bastante sendo possível conciliar tudo. Assim foi, nesse mesmo dia fui direta ao serviço, fiz teste covid, análises e deram entrada do meu internamento em casa com todas as informações que necessitava. Iniciei imediatamente antibiótico, até porque também estava com uma infeção urinária, e fui para casa com um aparelho que de 8 em 8 horas fazia entrar a medicação intravenosa através de um acesso permanente que tinha no braço. A partir deste momento estava entregue à equipa do internamento domiciliário, onde era mesmo obrigada a descansar, pois tinha de estar sempre em casa e em repouso, tinha um número de telefone que servia de SOS 24h por dia. Todos os dias, de manhã vieram cá a casa os enfermeiros e médicos para avaliarem o meu estado e trocar o saco da medicação ou outra coisa qualquer que eu necessitasse. Fiquei fã deste serviço, porque, ao mesmo tempo que estava no meu espaço, estava a ser acompanhada por uma equipa de saúde muito eficiente e sempre prontos a ajudar-me.
É de salientar que o Hospital Garcia de Orta foi o pioneiro desta modalidade de internamento, embora neste momento já se faça em vários hospitais pelo país.
Ao longo da semana fui melhorando aos poucos, a creatinina voltou a descer, o que me descansou, tendo alta há 2 dias. Embora ainda me sinta um pouco cansada, já começo a ficar mais ativa, com muito mais apetite, já engordei 1kg e já consigo beber, pelo menos 2 L de água, o que é crucial para o meu Rim.
Por vezes, preciso destes "abanões" para me lembara que nada é linear e tudo é incerto, e o inesperado pode acontecer. Também foi benéfico para perceber que tenho de levar tudo com mais calma, muito mais calma (às vezes esqueço-me e digo sempre sim a tudo).
Nao foi nada fácil e senti uma desmoralização e tristeza bastante grande dentro de mim, pois já pensava que, estando a fazer 6 meses de tranplante, poderia começar a normalizar a minha vida cada vez mais.
Nada é seguro e somos nós que temos de cuidar de nós!!! Aprender a dizer Não, e pensar só em nós, às vezes também é importante... não somos de ferro e nem sempre aguentamos com tudo.
Por me achar às vezes muito forte e tentar fazer tudo, este tipo de coisas acontecem! Cuidar de mim, para poder cuidar dos outros, é o meu objetivo neste momento, para além dos de sempre.
Grata à vida e grata a mim por ter aguentado mais uma batalha!!
5 meses de transplante. A vida vai evoluíndo devagar e as rotinas vão normalizando. Tento fazer um pouco mais de exercício físico em casa, com movimentos em pouco esforço e escutando sempre o meu corpo.
No meio disto tudo vou apanhando uns pequenos sustos. Há 4 semanas a creatinina subiu para 1,5 e estive quase para ser internada para que verificassem o que se passava e até talvez fazer uma biópsia ao Novo Rim. Realmente sentia mais sede e com a pele muito seca, o que é sinal de alguma desidratação, pelo menos no meu caso. Continuo a dizer que os sinais do nosso corpo são essenciais para que nos possamos cuidar ou ter em atenção a alguma situação que não esteja tão bem.
Após este susto, e com medo de voltar ao zero ou que o meu corpo rejeitasse o Novo Rim, comecei a beber mais água e de 3 litros passei a 4 litros. É um exagero de água, eu sei, mas no meu caso não custou nada a beber e o meu corpo estava a pedir. Era sinal que realmente estava a precisar de hidratar.
Após dois dias de ansiedade, de incerteza e com muitos medos, voltei ao hospital, fiz novas análises e na consulta tiraram-me um peso que permanecia em mim ao longo destes 2 dias. Creatinina voltou a 1,1 e o respirar de alívio, meu e dos médicos, foi nítido.
Infelizmente estes casos são comuns, mas o meu medo de que haja uma rejeição ou que o rim deixe de funcionar é um facto, pois não quero, não penso e não posso voltar à diálise.
Este medo que paira em mim ainda é uma constante, que ao longo do tempo tem sido atenuado, mas ainda tenho de o trabalhar para que não se apodere da minha mente, nem seja uma atração para o futuro. Porque acredito que atraímos tudo o que pensamos.
Entretanto, e com a medicação ainda bastante forte, o cabelo começou a cair, notando-se mais quando o penteio após lavar. Para mim não é grave, é mais uma superação que neste momento não me preocupa porque sei que ele vai crescer de novo. Não me irá cair por completo e felizmente nota-se pouco, porque ainda tenho bastante. Sendo assim, tomei a decisão de o ir cortar acima dos ombros, também porque estava a precisar de um corte radical e simplesmente porque apeteceu-me. Há muito que não o cortava assim tão curto, normalmente gosto de ter o cabelo mais longo.
As consultas continuam, neste momento de 15 em 15 dias, e as análises estão dentro do expectável e esperado, embora, por vezes, a hemoglobina esteja um pouco mais baixa, mas controlável com medicação.
As meditações e o trabalho de desenvolvimento pessoal têm ajudado muito para que os meus pensamentos sejam mais tranquilos e positivos, tentando melhorar as minhas atitudes e emoções, deixando para trás tudo o que não me faz bem.
O tempo não para e já estou a caminho do sexto mês, ainda em casa óbvio, a recuperar e evitando contactos com possíveis infeções. Sinto-me bem, segura, pronta para o meu novo presente e futuro, e com muita fé em mim e no Novo Rim.
Estou tão grata por esta nova oportunidade de Vida!
Em 2014, quando o Nefrologista me disse que tinha de iniciar diálise, fiquei em choque e entrei no desconhecido. A creatinina estava cada vez mais alta e era inevitável o início da substituição da minha função renal.
Após consulta de esclarecimento sobre os tratamentos de substituição da função dos rins com a enfermeira do hospital, depressa percebi que a hemodiálise não era opção para mim, pois tinha de me deslocar 3 vezes por semana a um centro para fazer tratamento durante 4 horas. Para além de que as restrições alimentares e de líquidos são muitas, a ausência da minha pessoa em casa durante tanto tempo, poderiam prejudicar gravemente o meu emocional. O facto também da minha filha, na altura, ter 11 anos e não poderia fazê-la passar pela minha ausência durante tanto tempo. O facto de querer levar a minha vida familiar e profissional o mais normal possível, permitindo que a diálise não fosse o centro da minha vida, pesou também na minha decisão.
Foi então que me comprometi em entra no mundo da Diálise Peritoneal, que até à data era desconhecido para mim. Sendo assim, tinha a oportunidade de realizar a diálise em casa, durante a noite, podendo ter a liberdade de continuar com as minhas rotinas de sempre.
Coloquei o primeiro cateter a 16 de setembro de 2014 no lado direito da minha barriga e iniciei diálise após pouco tempo, entrando também para a lista de transplante nessa mesma altura.
Foi tudo muito fácil e adaptei-me com sucesso à rotina de preparar a máquina da diálise, a cicladora, iniciando assim o tratamento em outubro, primeiro de forma manual e após 15 dias de forma automática.
Em dezembro de 2015 fui ao bloco operatório substituir o cateter colocando o novo no lado esquerdo, devido a infeção prolongada. Foi uma fase menos boa, pois apanhei uma bactéria no pós operatório e fiquei bastante frágil, permanecendo 8 meses em recuperação.
Contudo, tudo correu bem e voltei à minha vida de sempre, com a rotina da diálise ao longo das noites.
No verão deste ano ainda tive nova infeção tendo corrido o risco de substituir novamente o cateter. Fiquei com medo, muito medo de ter de passar por este processo novamente. Mas não foi necessário.... Dia 29 de setembro fui chamada para transplante renal e, ao mesmo tempo que colocaram o enxerto, retiraram o cateter que estava ainda com infeção.
Nesse dia foi a última vez que preparei a cicladora, mas acabei por não realizar o tratamento, pois fui internada nessa mesma noite.
Ao longo destes 7 anos tinha sempre na mente que o telefonema podia acontecer e vivi com ansiedade a espera. Foram várias as vezes que falava sobre isso e mostrava-me muito inquieta e impaciente quanto ao transplante. Ao longo destes 7 anos, o facto de ter um cateter na barriga não foi impeditivo de nada, mas foi, de certa forma, desconfortável pois andava sempre a arranjar forma de o esconder e de não se notar, o que por vezes era difícil. Contudo, e mais uma vez, assimilei e mentalizei-me que tinha de ser e não havia outra forma, apesar de nunca esquecer que o tinha sempre comigo.
Embora fossem longos estes 7 anos, e de por vezes achar que já tivesse à espera há muito, o Universo veio mostrar-me que tudo tem o seu tempo e nada acontece por acaso. Como acredito que tudo acontece no tempo certo, este transplante chegou numa altura em que havia a possibilidade de substituir o cateter. O Universo dá-me sempre as respostas, embora na maioria das vezes não o consiga ver.
No dia do transplante o cirurgião retirou também o cateter, sendo para mim um grande alívio e um 2 em 1, pois se assim não fosse, teria de o retirar daí a 6 meses, passanso assim por mais um procedimento.
Foi assim um fim de um ciclo e o início de outro e como tenho a certeza que este rim vai continuar a funcionar muito bem, não quero pensar mais em diálise, seja ela qual for, pois, apesar de na maioria das vezes ter sempre o pensamento positivo e muita esperança na minha vida, há e houve muitos momentos dolorosos, inconstantes e desafiantes pela qual tive de passar.
Agora é apenas viver o presente com o que o Universo e a Vida me quiser dar e permitir.
Fiz 1 mês de transplante há 3 dias e o meu Rim está de parabéns! 1 mês de transplante e tudo corre bem!
Não posso dizer que tem sido fácil, principalmente os 12 longos dias de internamento, mas tenho mantido sempre o pensamento positivo e esperança num futuro mais tranquilo, tudo se consegue e tudo se ultrapassa, mesmo o que às vezes parece não ter solução.
Muito importante, para além de seguir com rigor todas as indicações médicas e cuidados essenciais para o bem estar físico e emocional, é ter sempre o pensamento positivo, muita Fé que tudo vai correr bem e que o novo Rim vai funcionar durante muito, mas mesmo muito tempo.
Os dias pós transplante não foram muito agradáveis, apesar de sentir que estava muito bem acompanhada por toda a equipa.
Nos primeiros dias tinha algumas rotinas: análises, medicação, medição de tensão arterial e glicémia, exames, medição do nível de urina. Depois ainda tirei o cateter do pescoço e uma quantidade de coisas a que estava ligada que nem sei bem o que eram e também nem questionei. Depois foram os drenos e a algália (objetos muito desconfortáveis), que estava desejosa de me ver livre. Apesar de tudo isto, só me interessava saber se o meu Rim estava a funcionar bem e os valores das análises. A creatinina cada vez estava mais baixa, o que é um fator muito favorável. Contudo, os níveis de hemoglobina também estavam muito baixos o que era um indicador de anemia, de tal forma que tive de fazer uma transfusão de sangue pela primeira vez na minha vida, permitindo assim regularizar os valores. Tudo isto são processos normais, que fazem parte, mas cada caso é um caso. Cada corpo reage de forma diferente.
Uma das coisas mais desagradáveis para mim foi andar de algália. Outra foi tirar os drenos, embora tenha tirado os dois em dias diferentes, foi muito desconfortável. Nos primeiros dias, a alimentação foi à base de líquidos e a primeira refeição sólida soube-me pela vida. Notei que estava com mais apetite e o que me sabia melhor era mesmo o pão da manhã e o da tarde.
O Rim funcionou bem desde o início e as análises, cada dia que passava tinham valores cada vez mais otimistas, embora estivesse muito inchada e com 6 kg a mais, isto devido à quantidade de soro que estava a entrar no meu corpo para que permitisse ao meu rim funcionar o melhor possível, mas fui perdendo peso ao longo dos dias e consoante conseguia caminhar mais.
Nos últimos dias de internamento já estava um pouco farta da alimentação do hospital, com muitas saudades das minhas refeições de casa. Estes últimos dias custaram muito a passar, pois apenas estava a fazer antibiótico, sentindo muita solidão e isolada de tudo, sem paciência para falar com as pessoas, ler, escrever... Não me apetecia fazer nada... apenas restava ter paciência e esperar. Não podia receber visitas, mantinha-me apenas no meu quarto, onde a maioria do tempo via televisão ou séries na NetFlix. Estava entediada e desejosa de ir para casa para me sentir mais à vontade e estar junto dos meus, embora tivesse consciência de que se ainda estava no hospital era para um bem maior. Restava apenas ter paciência e fazer tudo com rigor para que nada corresse mal. Se a vida me deu esta oportunidade, eu teria de a agarrar com toda a força e ir vivendo um dia de cada vez.
Cada dia que passou senti-me fisicamente cada vez melhor e com muita esperança no futuro, embora por vezes ainda tenha pensamentos negativos, que depressa os faço sair da minha cabeça pois acredito que a minha mente e o emocional comandam o físico.
Mentalizei-me que este era o meu caminho e que o tinha de percorrer o melhor que conseguia, embora tenha sido um pouco um sofrimento emocional e solitário. Apesar deste sentimento de solidão, senti-me sempre muito apoiada por muita gente que me enviava palavras de carinho e muito positivas, pois nesta fase é crucial ter à volta uma energia de tranquilidade, equilíbrio e positivismo.
No dia 11 de outubro, após 12 dias de internamento, finalmente tenho alta e posso ir para casa. Era o que eu mais desejava e, ao chegar a casa, senti que era o início de alguma coisa boa e diferente.
Grata à Vida
Primeiro banho em casa após 11 dias de transplante, no dia da alta de internamento